O Brasil e o mundo passam por mudanças profundas em todos os aspectos da vida de indivíduos e grupos. Isto não é exatamente uma novidade, pois se há algo persistente nas sociedades contemporâneas é sua insistente transformação. Também não é novidade a comemorada capacidade do ser humano de se adaptar a novas situações. A rapidez e abrangência da atual transformação é que são a novidade imposta pela pandemia que enfrentamos. Está a humanidade em condições de reagir adequadamente ao momento, adaptando-se às mudanças? A julgar pelas diversas análises que circulam sobre o momento atual, a resposta é de esperança – sim!
A reação de pessoas e empresas à ameaça do Covid-19 revela com clareza novos comportamentos adotados no dia-a-dia, em decorrência, por sua vez, de outras mudanças ocorridas na forma de produzir e gerar os bens e produtos de que todos precisamos para sobreviver. Todos foram levados a dar-se conta de que havia uma ameaça à saúde e à vida, representada pela disseminação do vírus; em seguida a perceber que nossos cuidados corriqueiros por meio dos quais provemos as necessidades de alimentar-se, abrigar-se, vestir-se, proteger-se da violência não estavam mais seguindo o curso a que nos acostumamos.
Em termos práticos, duas tomadas de consciência: a da possibilidade de estarmos frente a um mal para o qual não havia uma resposta eficaz à disposição; depois, a de que mudanças de comportamento estavam alterando a forma costumeira de obter remuneração e de com ela buscar a satisfação das necessidades, inclusive as básicas. Assim, mudanças na percepção sobre condições e comportamentos do dia-a-dia levaram a novos comportamentos.
Num relatório de uma equipe de análise social e econômica ligada ao Google, de início de abril, lê-se a esse respeito: “Passamos a trabalhar de casa, escolas se adaptaram para o ensino à distância, restaurantes transacionaram para vender apenas via delivery e digitalizamos nossos contatos e momentos para mantermos a conexão com os nossos entes queridos. Ainda não conseguimos medir o impacto de tudo isso, mas a verdade é que o mundo não será mais o mesmo.”
Não demorou para que nos convencêssemos de que estávamos imersos na crise, que isso significava que, ou as pessoas agora já estão vinte e quatro horas do seu dia recolhidas em seus espaços privados, ou que estão a caminho disso. Assim, os analistas são levados a concluir que, como resposta, dadas as ferramentas com que o mundo tecnológico tem-nos brindado, “Temos que virtualizar tudo.” Entenda-se: transformar integralmente a forma secular pela qual as pessoas, em relações diretas face-a-face, construíram o mundo, para uma forma, propiciada recentemente pelas tecnologias, de adotar relações mediadas por essas mesmas tecnologias: computadores, ‘tablets’, celulares, telefones fixos, ‘wearables’ etc.
Nessa perspectiva, o vírus, além de toda a ameaça à saúde e à vida, está também antecipando uma realidade virtualizada em que estaríamos inseridos em dez anos, segundo os mesmos analistas. Não fosse por essa ameaça, chegaríamos à virtualização daqui a uma década, ou menos. Nós trilharíamos esse mesmo caminho, se o andamento do curso normal das coisas não tivesse sido interrompido – aliás, é a isso que denominamos ‘disrupção’. É para ele que nos encaminhávamos.
Então este momento, em que novos comportamentos estão se impondo, pode ser visto como uma oportunidade de acelerarmos a seleção e adequação das tecnologias disponíveis, para um novo mundo.
A mensagem dos analistas é otimista: adapte-se. Veja quantas oportunidades estão colocadas diante de você, oportunidades de participar da reconstrução das bases relacionais face-a-face a que estávamos acostumados e nas quais encontrávamo-nos acomodados.