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Riscos e Oportunidades para um Novo Mundo (II)

Dar-se conta de uma oportunidade depende da maneira como você olha para uma situação. Circulava há algum tempo uma historieta muito ilustrativa: dois comerciantes de calçados chegaram a uma localidade onde observaram que os pobres habitantes estavam todos descalços. Um deles logo se convenceu de que seu negócio não prosperaria ali, enquanto o outro se convenceu da oportunidade de calçar todas aquelas pessoas. Perceber-se de uma situação como uma oportunidade exige visão e otimismo.

A disseminação do vírus da Covid-19 e sua pandemia, tendo amedrontado as pessoas, as levou a atocaiarem-se em seus espaços privados. Depois de percebermos que a pandemia estava produzindo efeitos sobre as condições de produção de bens e serviços – entenda-se: desemprego, fechamento de empresas, interrupção de segmentos de cadeias produtivas, redução do crédito e derrocada financeira –, percebemos também que nosso comportamento se transformara. Nesse exato momento, boa parte das pessoas, recolhidas em suas residências, vieram a substituir o costumeiro modo face-a-face e presencial de relacionar-se, por modos mediados por tecnologias de comunicação e informação. Passamos a consumir mais essas tecnologias.

Um relatório muito oportuno, desenvolvido por uma equipe de analistas sociais e econômicos ligada à Google, observou isso tudo, dimensionou o que era possível quantificar e percebeu a classe de oportunidades que estava diante de nós, já que a virtualização da sociedade estava se acelerando. O novo comportamento está antecipando em dez anos a virtualização da vida em sociedade. Perceber-se de uma oportunidade exige visão, dissemos há pouco.

Antes de seguir em frente nessa linha de raciocínio, vale registrar: aquela visão privilegiada não toca – nem precisa tocar – em questões que podem estar incomodando as pessoas, como: mas por que tive que mudar meu comportamento?; de onde surgiu essa doença?; como atingiu tão rapidamente toda a geografia do planeta?; por que todo o conhecimento científico e recursos tecnológicos que temos não conseguem ser mobilizados em benefício do meu modo de viver em relações face-a-face?

Não! O otimismo que alimenta a percepção da oportunidade não se pergunta por que aquelas pessoas estavam descalças.

E nos parece que não devemos estancar aqui o argumento central deste nosso texto, que objetiva iluminar a ideia de que, diante da inevitabilidade de uma situação, devamos nos concentrar em extrair dela o melhor, nos adaptar e seguir em frente construindo esse mundo novo. Entretanto, é importante registrar também que a causa de todo esse transtorno, os sofrimentos, e das novas oportunidades deve ser apurada, sua responsabilidade identificada e ter a fatura cobrada. Caso contrário, assumiremos um novo risco. Como vimos num canal do Youtube recentemente alguém se indagar: de pandemia em pandemia, o que faremos quando as principais vítimas forem recém-nascidos, bisnetos, netos e filhos amados de alguém?; assim como hoje parecem ser os idosos?   

As vítimas, na verdade, têm sido a própria humanidade, toda ela, o seu jeito natural face-a-face de se relacionarem as pessoas, abraçarem-se, darem-se as mãos, acariciarem-se, encontrarem-se no estádio de futebol ou mesmo de afastarem alguém de quem desgostam. Enfim, as vítimas somos todos que adquiriram o comportamento relacional que nossos idosos estavam nos legando. Então, voltemos às oportunidades.

A julgar pelo que nos dizem os órgãos formadores de opinião, o mundo não será mais o mesmo. Vamos nos concentrar nessa inevitabilidade e aprofundar a mudança de comportamentos apenas iniciada, produzindo novas e adaptadas soluções.

‘Seleção e adequação das tecnologias disponíveis’ é necessário para nossa melhor adaptação à nova condição e ao novo comportamento. A virtualização exigirá, por exemplo, maior velocidade de conexão e maior capacidade de suportar concomitantemente bilhões de pessoas e coisas conectadas e se comunicando, como informam os analistas, responsáveis pelo relatório. Na sua última página eles nos alertam que a tecnologia de banda larga à disposição será a 5G. Felizmente, o relatório nos desperta a dúvida: não temos seleção a fazer, ou apenas não consigo me recordar das alternativas?

Escolher entre possibilidades e assumir a responsabilidade pelas consequências é o que as pessoas vêm fazendo desde sempre. Mas qual é a escolha que pode ser feita aqui? Resposta: 5G. É estranho! Se eu – cada um dos indivíduos – aceitar que a virtualização da vida em sociedade é inevitável, se me empenhar em visualizar oportunidades e em criar soluções para vivermos o melhor possível num mundo novo, estarei sabendo ‘na largada’, entretanto, que a plataforma única sobre a qual tudo isso será desenvolvido tem poucos criadores-proprietários. Consolidaríamos assim, uma vez mais e como algo inevitável, a vulnerabilidade de bilhões de seres humanos frente a pouquíssimos concorrentes.

Não percamos o foco: nada disso faz, da visualização de oportunidades e da ‘pegada’ otimista, atitudes desimportantes, nos parece.

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Publicado por comtudo50

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